domingo, 22 de junho de 2014

A política Casas Bahia de Dilma

As pesquisas eleitorais vem e vão, mas acho que ainda é cedo dizer para que lado o vento vai soprar nas eleições. Acho que a Copa do Mundo, contra as expectativas mais recentes, pode até ter um efeito positivo no eleitorado. Mas mais que pesquisas e megaeventos esportivos, para mim fica a sensação de que é preciso mudar.

E de onde vem isso? Bem, acho que um pouco disso está ligado ao descuido na política econômica. Lula sempre teve o costume de comparar a política econômica de um país com a economia doméstica. Ele falava que o orçamento do governo tinha de ser cuidado da mesma forma que a dona de casa cuidava do orçamento familiar. E foi aí que o governo se estrepou, a meu ver. A dona de casa Dilma fez um crediário nas Casas Bahia em nome de todos os brasileiros, com zero de entrada e pagamento a partir de 2015. 

Na ponta do eleitor, a inflação foi o que despertou essa percepção. Ela é reflexo de problemas mais profundos, como a contabilidade criativa que foi usada para manter a expansão dos gastos públicos. A deterioração da política econômica, por sua vez, levou ao baixo crescimento, ainda que o emprego tenha sido mantido graças a políticas paliativas de desoneração fiscal (que, por sua vez, impactaram os gastos do governo). 

Mas nem tudo são espinhos. Há flores. A infraestrutura ganhou protagonismo na pauta do governo, apesar da incompetência na execução dos investimentos (algo que se deve mais à nossa falta de experiência em fazer editais e concessões do que a qualquer outra coisa). A educação também teve ênfase, de novo apesar de algumas bolsas terem sido destinadas a países pouco tradicionais na educação técnica. 

A política social também teve resultados, o Brasil de fato está se livrando da miséria. Principalmente no interior mais pobre essa mudança está chegando. Acho que é aí que as pesquisas eleitorais estão enviesadas. Entendo que o cidadão de São Paulo não veja o governo federal presente na sua vida diária. Mas acho que o cidadão médio brasileiro, das cidades que sim receberam verbas e participaram dos programas do governo federal, pensa completamente diferente. As cidades médias, aliás, são aquelas que mais se adaptam aos programas como Minha Casa, Minha Vida, pelo simples fato de serem mais viáveis para os empreendimentos do que nos superfaturados espaços urbanos das capitais. 

Daí que meu palpite é que a Dilma vai se reeleger com certa tranquilidade até. A questão é saber que tipo de governo ela vai fazer. Ela já declarou que não vai tomar medidas impopulares (que infelizmente são necessárias agora). Se Dilma mantiver a política Casas Bahia, o Brasil está fadado a cair no Serasa. Gostaria de ver mais alternância no poder, mas acho difícil que esse grande contingente de pessoas que creio não estar captado pelas pesquisas e que viu sua vida mudar nesses anos, esteja suficientemente importunado pelo aumento de preços para apostar num candidato que desconhece. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Quando o marketing político bloqueia o debate

Acho que está faltando um candidato a presidente pra fazer o efeito Marina Silva nessas eleições (amealhar o voto dos insatisfeitos, o que causaria um segundo turno).

Todos os três são produtos do marketing político e não se diferenciam em quase nada. Isso ficou evidente na resposta de Campos e Aécio ao discurso de 1º de maio da Dilma.

Talvez seja ainda cedo, mas não vejo ninguém fazendo o papel de colocar a pauta na mesa (com o perdão do trocadilho) e obrigar o debate público do que é importante.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Por que não se pode defender os justiceiros

Resolvi trazer algumas discussões do Facebook para este blog. A ideia é sempre tentar dar uma abordagem mais compreensiva sobre o que tem sido discutido na velocidade alucinante das mídias sociais, fora das mídias sociais. Convido a todos que queiram contribuir com a discussão para comentar.

A ação dos justiceiros que começaram a amarrar criminosos em postes foi defendida pela âncora do SBT Rachel Sheherazade. Ela na verdade disse que compreendia por que as pessoas estavam fazendo isso (não me lembro de ter visto uma defesa aberta dos justiceiros) ao mesmo tempo em que ironizava as pessoas que defendiam os direitos humanos.

Pois bem, nesta semana a justiça feita com as próprias mãos acabou matando uma mulher inocente no Guarujá, vítima de um linchamento promovido por um boato compartilhado nas redes sociais. Como se não bastasse o fato de que nenhuma das vítimas dos justiceiros ter tido o direito assegurado pela Constituição Federal de um devido processo legal, nesse caso esse ato matou uma inocente.

O assassinato dessa mulher é apenas um dos motivos por que o Estado é quem detém o monopólio exclusivo da força. Um comentário que vi no Facebook dizia que esses casos de linchamento são a prova de que o Estado é falho. Sem dúvida a perda desse monopólio é característica da ausência do Estado, o que não significa que isso seja uma boa coisa.

Mas para além da óbvia injustiça na esfera do direito, acredito que a privatização da segurança é algo inviável para a sociedade como um todo. Trata-se de um problema da tragédia dos comuns: a segurança, como bem público que é, acaba tendo dificuldades de ter seu financiamento organizado voluntariamente pelas forças do mercado.

Explico-me: um bem público é todo aquele que pode ser consumido por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, sem esgotar o bem ou serviço. No caso da segurança posso citar o exemplo do prédio em que eu morava em São Paulo, que não tinha uma guarita com segurança, mas se beneficiava do fato de que o prédio à sua frente tinha um segurança 24 horas. Apesar de não pagarmos um tostão no nosso condomínio para o segurança da frente, nós nos beneficiávamos pelo fato de ele estar ali, inibindo a ação de bandidos. Éramos um carona no dizer dos economistas, um free-rider.

Concordo que no caso dos justiceiros talvez no primeiro momento a sensação da comunidade possa ser de mais segurança. O problema é que esses justiceiros, em algum momento, tendem a querer alguma remuneração pelos serviços prestados. E pela característica de bem público da segurança essa remuneração não tende a ser grande se deixada apenas ao cargo da vontade de cada cidadão contribuir (sendo que todos acabam se beneficiando do serviço, por causa da tragédia dos comuns).

Ao fim e ao cabo esses justiceiros então tendem a se organizar em grupos ao estilo da máfia, exigindo um pagamento compulsório pelos serviços de segurança prestados. Fazendo ofertas que as pessoas não podem recusar, no dizer do Vito Corleone. No Brasil temos o (mau) exemplo do Rio de Janeiro, onde as milícias, sob a justificativa de promover a segurança nas comunidades, passaram a cobrar não apenas uma mensalidade dos moradores, mas também comissões sobre a compra e venda de imóveis e aluguéis.

Espero que esses argumentos sejam suficientes para convencer aqueles que ainda acham que a justiça com as próprias mãos é uma saída. Pode até ser que no curtíssimo prazo a comunidade se sinta segura (apesar de estar afrontando a constituição e os direitos humanos), mas mesmo sob o argumento da segurança coletiva essa solução tende a ser péssima no longo prazo.