terça-feira, 25 de setembro de 2007

Um relatório árido

Uma das atividades do Curso Estado de Jornalismo é fazer um relatório, no dia correspondente ao seu seu número foca. No meu caso, riam, foi dia 24. Posto o produto formal e não muito elaborado de meu trabalho:
 
RELATÓRIO FOCA24

Na manhã desta segunda-feira, a 18ª turma do Curso de Jornalismo Intensivo se reuniu na escadaria da Catedral da Sé. Às 8h30 boa parte da turma já se encontrava lá, faltando apenas dois ou três alunos, que chegaram dentro dos quinze minutos de atraso tolerados pelo professor Luiz Carlos Ramos. Não houve falta.

Luiz Carlos entregou as análises dos textos produzidos na aula anterior. Todos, segundo ele, variaram entre bom e muito bom. Depois de entregues as matérias, ele descreveu a proposta do dia. Os focas deveriam fazer uma matéria sobre o centro de São Paulo, "a verdadeira São Paulo que não a da Avenida Paulista".

Em seguida o professor levou o grupo por um passeio pelo Centro. O roteiro incluiu a Praça da Sé, Pátio do Colégio, Bovespa e Edifício Martinelli até a esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João. Em frente à Secretaria de Justiça a turma encontrou uma manifestação do MST. A partir daí Luiz Carlos deixou livre para quem quisesse já cobrir a movimentação ou buscar outras pautas.

A maioria seguiu o professor pela Avenida São João, até a Avenida Ipiranga quando ele se despediu e seguiu seu rumo. Eram cerca de 10h30 e começou a chover. A partir daí houve uma dispersão dos focas em pequenos grupos.

Navegar impreciso

Dia 22 de setembro é dia do Rio Tietê. O rio que há 60 anos abastecia a cidade de São Paulo está morto. Suas margens foram canalizadas e asfaltadas. Tornaram-se Marginais. O esgoto da megalópole hoje corre em seu leito. É levado por dezenas de outros córregos também sepultos, imperceptíveis não fossem as freqüentes enchentes da cidade.

Em comemoração ao dia do rio uma empresa, organizada pelo Instituto Navega São Paulo, pretende levar um grupo de jornalistas e ambientalistas por um pequeno passeio pelo rio. O barco branco contrasta-se com os excrementos pretos que dão o tom da água do Tietê. Imponente, com três andares de altura, a embarcação dá a distância necessária para tornar o passeio menos impactante.

No primeiro andar, uma sala climatizada, janelas fechadas com os toldos brancos e uma apresentação e PowerPoint estão prontas. No segundo piso, um pequeno coquetel recepciona os visitantes. Ali o calor já se faz presente e as janelas estão descobertas.

É dali que se pode ver o homem que toma banho e lava suas roupas num dos dutos que abastece o rio. No concreto, ao sol, estão estendidas duas camisetas pretas, uma calça jeans, um par de meias e tênis pretos. Ao lado estão também um isqueiro, um xampu, um barbeador e um sabonete. O homem de bermuda se utiliza de um balde verde para se enxaguar.

Enquanto no barco os presentes no evento comem uma banana, um sanduíche natural devidamente embalado, ou vêem a gradação da água do rio Tietê — da nascente límpida, passando pelo negro trecho paulistano, até a foz onde torna a ficar translúcida —, o banhista se esgueira pelo túnel. Aperta-se contra a manilha e tira o calção. Nu ele olha para o barco, mas não interrompe o enxágüe.

No terceiro andar, que é um terraço, estão os cinegrafistas, fotógrafos e políticos. A vereadora Soninha também. Veio de bicicleta, politicamente correta no dia mundial sem carro — o capacete pendurado no pescoço não deixa dúvidas disso. Junto com ela cerca de quarenta jornalistas pegaram o ônibus na frente da UniSantana, enfrentaram o trânsito das marginais e foram até o barco, que estava a 600 metros de distância.

Do "terraço" se escuta o trânsito das marginais e se sente o sol na nuca. O vento interrompe o cheiro do rio. Fedor que lá embaixo, na hora do embarque, embrulha o estômago dos visitantes. Talvez seja por isso que a maioria deles esteja nesse local, não por acaso acompanhados dos fotógrafos e cinegrafistas.

Os grandes motores da embarcação, cujos barulhos lembram os de um ferryboat, começam a funcionar e abafam um pouco a concorrência de seus irmãos menores que trafegam pelas marginais. Os organizadores do INS convidam todos a descer e ouvir uma palestra sobre a empresa. Lá João Mogi (peguei o nome de ouvido), um japonês presidente do INS e de uma empresa contratada para o aprofundamento da calha do rio Tietê, conta como pretende ainda ver o rio revitalizado e apto ao transporte hidroviário. Antes, o "mestre de cerimônias" integrante do INS passa algumas instruções, entre elas a de que "em hipótese alguma a água [do rio] pode entrar em contato com as pessoas".

Com as janelas fechadas começa o passeio. A palestra de Mogi não dura muito. A curiosidade de se olhar a água que em volta do barco e as outras embarcações (canoas, botes e caiaques) que também participam do dia comemorativo dispersa os palestristas. Nem mesmo o ar condicionado segura os visitantes.  Sozinho, Mogi segue o fluxo de gente. A maioria sobe ao terraço, onde é possível aproveitar a vista, ser visto, fugir do cheiro e curtir a viagem.

O trajeto é pequeno e ninguém é tolo o suficiente para querer algum dia fazê-lo de novo. O barco sai da altura da ponte das Bandeiras, passa por baixo da via e segue até a altura do Anhembi, onde tenta fazer a volta. Tenta mais de uma vez, porque na primeira quase vira a canoa movida por cinco ambientalistas mais propensos a aventuras.

Eles são da turma que remou e que não quis se cobrir com máscaras de gás, capas de chuva e botas de borracha. Esses são os que estão nos botes infláveis. São cinco botes com cinco pessoas, quatro remando e um fotografando ou filmando. Esses estão mais protegidos.

Em terra, o grupo que acompanha aplaude, fotografa e filma, da ponte e das margens do rio. Margens que acumulam uma pequena caatinga que se forma entre o concreto e a água. Mato, pó e lixo.

Tudo muito diferente da escadinha montada para o acesso ao barco. Ela, como o barco, também é branca. Também foi colocada ali às pressas — a cal escorrida pelo concreto denuncia isso. O incômodo de um dos anfitriões, o banhista, também dá indícios de que a visita foi inoportuna e surpresa.

Findo o passeio, a organização avisa aos jornalistas que haverá mais um passeio, igual ao anterior antes da volta. Ressaltam que o ônibus ainda vai demorar outra meia hora antes de conseguir chegar ao local. Note-se aqui que o ônibus com o qual esse pessoal chegou ao barco foi improvisado, já que o original ficara preso no trânsito, em pleno dia mundial sem carro. Mesmo assim a maioria sai.

O cheiro é insuportável, dá nó no estômago. O vapor de merda que se acumula no nariz, impregna-se nas roupas e que escorre pelo suor é demais. Quando o grupo de canoístas quase virou, quem estava ali na beira do primeiro andar pode ver como eles habilmente remavam entre os dejetos, entre os pedaços de fezes que formam a superfície do rio. Volta e meia, pelo revolver da água causado pelos grandes motores, um ou outro lixo mais elaborado, pneus inclusive, apareciam à superfície.

Por isso a maioria deixa o barco. Esperam os canoístas subirem, pacientemente, para não correrem o risco de entrar em contato com a água. Só à beira da Marginal é que percebem o porquê do ônibus: os carros. É simplesmente impossível atravessar a marginal a pé. O fluxo intermitente justifica todas aquelas barraquinhas, trilhos e fogueiras nas faixas de terra que separam as pistas: as pessoas simplesmente não conseguem atravessar a pista entre 6h e 20h.

No alto da ponte um ex-sindicalista e neo-ambientalista propaga alguns gritos de ordem híbridos. São brados ecológicos na rima e entonação metalúrgica. Do alto de seu caminhão de som reclama dos motoristas que não deixaram seus carros em casa para sofrerem como simples pedestres. Reclama das guerras e dos líderes. "PAZ e AMOR!", anuncia um colega seu de outro caminhão de som ainda maior. No ritmo do Axé e com a faixa "Mega Feirão de Veículos".

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A grande discussão

Dora Incontri é doutora em Educação. E é sobre Educação (com o Ezão) que nos debruçamos em nossa primeira aula de filosofia. Algumas generalizações são necessárias, adverte ela logo de começo e parte para a Grécia, com a convicção maiêutica de uma socrática assídua. Explico: maiêutica era o método que Sócrates utilizava para filosofar e ensinar sua filosofia. Com ela o filósofo extraía conhecimento das pessoas mais ordinárias daqueles tempos, como escravos e mulheres.
 
No decorrer da explanação, uma intromissão intermitente insistia em pensar a maioria dos homens como ineptos. O mesmo corte no raciocínio nos dava a entender que, a não ser que nos tornássemos Einstens (vá lá, que nós, pequenos jornalistas, não nos tornássemos Cacos Barcelos ou outros exemplos mais elaborados de profissinais), cairíamos na perigosa média medíocre -- uma tal "caixinha do faz tudo", que poderei discorrer depois.
 
Felizmente, algumas caras viradas e conversas paralelas depois, não chegamos a conclusão alguma. Atingi o meu objetivo, disse nossa professora triunfante. Filosofia é isso, discussão, voz alta e caras feias (blasé). Tá certo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Uma foca dos anos 50

Ontem tivemos a oportunidade de conhecer Cecília Thompson, a nona jornalista do Estadão, com 52 anos de carreira jornalística e uma jovialidade de dar inveja a muitas meninas de 20 anos que andam por aí. Atualmente ela é da ouvidoria do jornal. Seu trabalho é importante para a rotina do jornal. Recebe cerca de 200 e-mails por dia e, pasmem, resopnde a todos, junto com uma auxiliar. Faz isso buscando a resposta às reivindicações da população junto com as autoridades ou empresas responsáveis. Segundo ela, 90% das questões são resolvidas.
 
Ela contou preciosidades sobre a época de chumbo e sobre antes. "Na primeira vez que entrei na redação ouvia aquele barulho de centenas de máquinas de escrever e aquele cheiro de chumbo, da linotipo. Parecia que eu estava vendo um trem descarrilado da Estação Central, mas eu achava tudo lindo", afirma.
 
Cecília contou várias histórias, sempre revelando a paixão pela profissão. Ela trabalhou por muito tempo como repórter, começou na Última Hora de Samuel Weiner, passou pelo Estadão, ficou 10 anos "ganhando dinheiro", na Olivetti. Quando Claudio Abramo a convidou para voltar ao jornalismo ela não hesitou, "mesmo com um salário 40% inferior ao que ganhava na Olivetti", atesta.
 
Emocionou-se com os 31 "jovens jornalistas" e se colocou à disposição do grupo para futuros auxílios. "Depois da época da ditadura os novos repórteres pareciam tão apáticos, vieram tão conformados", lembrou, dando a entender que via alguma diferença nas turmas atuais. Sentada o tempo todo, depois de deixar toda a turma quieta como que em prostração, ela revelou um pouco dos desafios que enfrentou. O preconceito por ter sido, em sua época uma mulher ativa, jornalista e divorciada 4 vezes. Mostrou-se uma ecologista e pacifista. "Minhas maiores bandeiras são pela reciclagem e pela paz".
 
No fim da palestra foi possível ver em alguns dos focas um brilho diferente nos olhos. Brilho que começou com deslumbramento e acabou em comoção.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Novas de um foca

Vou pausar um pouco a pesquisa sobre os faxinais por um tempo. Desde sexta-feira passada (31/08) me encontro em São Paulo para fazer o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do Estado de S. Paulo. Algo que eu tento traduzir para os familiares e amigos fora da área de comunicação como um trainee, mas que é melhor traduzido como um curso de extensão universitária (certificado pela Universidade de Navarra) que inclui experiência prática na redação das empresas do Grupo Estado.
 
Desde ontem estou convivendo trinta brilhantes jovens jornalistas. Ainda estou me aclimatando à paulicéia desvairada, tentando acostumar os pulmões e o peito para encarar o batente por aqui. A evolução tem sido melhor do que eu esperava, a turma receptiva, a pensão que encontrei boa, tudo dentro dos conformes -- exceto por um banho de água da chuva, conferido por uma daquelas camionetonas estilo Pajero, que um otário me deu, ao passar rente à calçada num domingo chuvoso. 
 
O desafio agora é fazer uma matéria do metrô de São Paulo, que completou recentemente 35 anos. Ultimamente o sistema tem enfrentado adversidades, tanto pelo aumento do número de usuários, devido, em parte, ao bilhete único, quanto por greves de metroviários e pela cratera que se abriu na construção da linha 4, no ano passado. Notícias boas eles também têm. A assessoria tem uma farta fonte de matérias com as exposições artísticas e bibliotecas dentro das estações, além do recente censo metroviário e dos avanços na construção da própria linha 4 (amarela). O desafio agora é trazer algo novo, ou algo velho com um enfoque diferente. Vejo-me confuso. Assim que tiver um esboço de texto publico aqui. Por enquanto busco a pauta.