domingo, 25 de novembro de 2007

Esse moleque travesso

O título já era dele. Qualquer derrota por um gol de diferença daria a taça do Campeonato da Federação Paulista de Futebol para o Clube Atlético Juventus. A festa estava montada, cerca de três mil pessoas lotaram as arquibancadas do Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Rua Javari. A italianada da Mooca marcou presença. A torcida adversária do Linense não fez por menos, compareceu ao certame, acreditando na vitória gorda que lhes daria o título.

Depois de uma canção que rememorava a Revolução de 1932, pela Lei, por São Paulo e pelo Brasil, começou a partida. Embebidos de brio e glória esquadrão violeta não perdoou e meteu logo um golaço na gaveta do goleiro linense. O adversário chegou a empatar, mas a bandeirinha, isso mesmo, fiu fiu, uma bandeirinha acima da média para um campo de futebol anulou o gol. Graças a Deus! Mas o empate foi inevitável no primeiro tempo, o Linense ainda marcou, se não me engano de cabeça. A resposta do moleque travesso veio quase instantaneamente e resultou num pênalti, perdido pelo "craque" Jhonny, que parece o Vieri, segundo dizem. Engraçado é que a torcida o compara com o Vieri para denegri-lo, mais do que qualquer coisa.

A festa continuava enquanto a venda de canoli movimentava o corredor central da juve. No segundo tempo a torcida da casa ficou calada, e teve que sofrer mais. O Linense partiu pra cima e conseguiu o segundo gol. Aos quarenta e cinco do segundo tempo, quando o juizão já tinha anunciado os quatro minutos de acréscimo, o Linense conseguiu cavar um pênalti. E não desperdiçou. O goleirão do Juventus, Marcelo, se não me foge a memória, "bom com as mãos mas ruim com os pés" não conseguiu segurar o petardo. Conseguiu perder o título dentro de casa, desabafaram os torcedores. Pontualmente via-se pelo estádio alguns desacorçoados descendo para logo fugir dali. O lado linense do estádio explodiu em festa. É campeão!... É Campeão!...

Silêncio dos moquenses. Um último lance de ataque do moleque travesso. Bate e rebate na área e é gol. Gooool!... É do Juve! O título é nosso. Chuupa Linense! Oooo filha da puta! Esses e outros gritos surgiram numa virada histórica. É mais um título do Juventus, que esse ano já levou também o vice de natação e a musa do campeonato.

Hino do Juventus

Esse moleque travesso,
que tem nome e tradição,
merece o nosso respeito
É a força jovem da nação.

Que belo time,
Que belo esquadrão
Juventus amigo
do meu coração

Juventus, Juventus
eu estou aqui
Vamos torcer junto Juventus
Pra daqui nunca mais sair

mais fotos no meu flickr (link ao lado)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Paraty no feriado

Parati vai se tornando Paraty à medida em que saímos de São Paulo. Conforme avançamos no caminho as placas vão admitindo a grafia original da cidade. As rodovias tornam-se mais estreitas e sinuosas. Quando entramos no estado do Rio de Janeiro, os olhos de gato somem e as faixas se tornam irregulares. Nos aproximamos do estado de natureza, hobbesiano e exuberante.

No domingo a entrada da cidade está tranquila. A cidade antiga se revela logo que chegamos. Algumas construções novas que imitam o estilo colonial já denunciam o que nos espera. Alguns traços de cidade pequena e arquitetura ordinária ainda persistem, é verdade. Ao longo da avenida principal vamos percebendo uma gradação, saindo da cidade pequena, fluminense, barata e contemporânea rumo ao passado.  Seguimos a avenida principal até encontrarmos com os caminhos de pedras irregulares. Aqueles que impedem os saltos na Flip.

Nossa casa está na Rua do Comércio, a principal. A casa é também a principal, a única com eira e beira de nosso bloco. Inicialmente foi armazém, depois reformada tornou-se pousada e agora abriga eventos. Quando entramos pela porta azul que tem uma pequena cruz no alto, percebemos onde estamos. A ante-sala escura e com uma parede que não chega até o teto não consegue esconder a grandeza da sala principal. Ao fundo, olhando reto em direção à entrada a grande mesa de jantar está bem iluminada, ladeada por uma grande janela. A escada principal esconde os lustres e ventiladores que estão junto à mesa. Uma coisa é certa, é tudo muito grande e belo.

Vários móveis de épocas antigas e pequenos objetos nunca mais usados estão em todos os lugares. Uma espécie de telégrafo, vários espelhos de todos os tamanhos, tudo incrivelmente limpo e inodoro. Minha idéia de antiguidade relacionada a cheiro de mofo mudou depois dessa experiência. Foram três dias e duas noites vivendo nesse paraíso. Eram várias casas, uma espécie de vilinha. Treze quartos, três cozinhas, sala de música e estar. Os quartos tinham a peculiaridade de terem separados o lavabo e o banheiro. Em nenhum lugar eles eram combinados. Talvez denunciassem uma época em que eram necessariamente separados.

Já conhecia Paraty, já tive a oportunidade de estar lá na Flip. O cansaço não me permitiu de mais explorações. A chuva não me permitiu maiores fotos. Eu me permiti um descanço. Cansei. Ainda guardo o estresse de São Paulo é difícil distender. É difícil parar de pensar nos detalhes insignificantes da vida, na grafia das palavras, na estrutura do texto. É certo que o que fica não são essas coisas. As contradições aos poucos desaparecem. O armazém é chamado de casa ou pousada. Os objetos que ficarem, as poucas e austeras coisas que eu deixar contarão histórias de outras pessoas. Tão deslocadas e preocupadas quanto estive lá em Paraty. Sequestradores de interpretações, de belas imagens e de filosofias.

Queria viver lá, como pescador e cuidador dessas casas. Como o Bitelo, o nosso amigo caseiro. Ou o Serginho, já subalterno do Bitelão. Queria fugir só. Só queria viver nessa ideação. Na praia do Sono pensei várias coisas. Não tive sono não. Desisti de morar em Paraty quando entrei no açougue do mercado. Um fedor completo mesclado a uma desorganização digna do Rio de Janeiro. Eram três balcões: frios, carniceria (eu uso o espanhol aqui porque casa com el olor) e padaria. Cada um com um rolinho de senhas de papel e uma fila que se formava atrás delas. Um bafo quente insuportável. Algo que me lembrou muito o lado ruim da cidade maravilhosa. A paciência, por sorte, sempre está em alta quando vou pra lá. Mas não se suporta isso por toda uma vida.

www.flickr.com.br/photos/paulojustus

domingo, 11 de novembro de 2007

São Paulo e a infância

Nas últimas semanas tenho experimentado uma constante de nostalgia. Uma saudade que me acompanha quando rememoro antigas canções gauchescas, lá de Guarapuava, ou quando lembro as catequeses de sábado à tarde. Tudo isso enquanto passo apressado pelos gigantes de concreto ancorados na Avenida Paulista. É uma sensação reconfortante. Sinto-me responsável por aquele meu antigo eu, a criança. Sinto que preciso mantê-lo vivo, com pequenos doces e distrações. Eu adorava as pequenas distrações.
 
Tinha o costume de observar por horas as formigas trabalhando. Nas aulas de ensino religioso de meu colégio adventista e também nas catequeses católicas a metáfora da formiga trabalhadora era sempre utilizada. Mais ou menos da mesma forma que aparecia naquela fábula da formiga e do grilo, que eu gosto muito. Sempre que podia eu carregava uma formiga comigo, de um lado para o outro. O principal itinerário era da casa da minha avó para a minha. Normalmente levava aquela pequenina formiga doméstica. Aguentava a coceira que sentia quando ela lutava para andar entre os finos pelos de meus braços.
 
Junto com os colegas do Curso de Jornalismo lembro-me também da infância televisionada. O lado bom de um sistema de comunicação que nos padroniza mais e mais. Uma cumplicidade de jingles e episódios de enlatados americanos que nos aproximam, 31 jovens de diversas partes do país. Não fosse a telinha, levaríamos mais tempo para descobrir e imaginar a infância alheia. Acho que todos temos uma constante necessidade de se identificar com o outro. Talvez a nostalgia venha daí.